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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

P29BR 29ER FAT TEST / Pedalando a nova Borealis Yampa

Fat Bikes são para todos?

No ano de 1973 foi organizada no Alasca a edição inaugural de uma prova que se tornaria emblemática, a Iditarod Trail, corrida de trenós puxados por cachorros que percorria nada menos que 1000 milhas, cerca de 1.600Km, através da tundra gelada. Dez anos depois, a já tradicional prova serviu de inspiração para a Iditaski, primeira competição para conjuntos de propulsão humana cruzando o percurso da Iditarod Trail. Com o crescente interesse pelo, na ocasião, novo esporte batizado de Mountain Biking, nascia em 1987 a versão sobre duas rodas da competição, a Iditabike.


Esta breve "aula de história" a respeito de alguns dos eventos esportivos realizados no maior estado americano em extensão territorial, pode parecer estranha num primeiro momento, contudo o sucesso da Iditabike, ainda hoje uma das mais difíceis e extremas ultramaratonas ciclísticas do planeta, está intimamente ligado ao surgimento das Fat Bikes, assunto principal desta matéria. A dureza de se pedalar uma mountain bike comum através dos caminhos nevados, fez com que aflorasse a veia criativa dos competidores. Começaram então a aparecer na corrida algumas mountain bikes adaptadas com até três rodas montadas no mesmo eixo, uma ao lado da outra, arranjo que apesar de incomum, proporcionava ao piloto a estabilidade necessária para pedalar em condições tão adversas. Até que em 1999, por intermédio de um dos maiores vencedores da prova, Mark Gronewald, nascia a primeira versão das Fat Bikes.

Como sugere o próprio nome, nas Fat Bikes as rodas e pneus são superdimencionados. Os aros podem ter pelo menos quatro vezes a largura que os de uma mountain bike comum, já seus pneus, com medida de diâmetro interno compatível com aros de 26 polegadas, em função da altura de suas laterais e largura que pode atingir até 4.8 polegadas, ou 120mm, apresentam o diâmetro externo equivalente ao de uma 29er.

Você pode escolher se prefere tratá-las com bikes equipadas com rodas de 26 ou 29 polegadas, mas a verdade é que o formato concebido primordialmente para a neve, evoluiu. Apoiadas por quadros, garfos, rodas e pneus mais leves, além de novos padrões de movimento central e cubos, as Fat Bikes invadiram outros terrenos, fazendo sucesso entre os consumidores mais descolados, a ponto de se tornarem hoje a bola da vez no mercado americano de bicicletas. Aqui no Brasil, a Specialized e a sempre pioneira KHS mostraram recentemente seus modelos de Fat Bikes, prometendo oferecer umas poucas unidades em algumas de suas revendas no decorrer de 2014.

Há alguns meses o P29BR já tentava viabilizar o teste de uma Fat Bike em solo brasileiro, algo que se tornou realidade apenas em dezembro último, quando o correspondente do site no EUA, o francês Laurent Tarnaud, desembarcou por aqui com um exemplar da recém-lançada Borealis Yampa na mala, talvez o que há de mais moderno na atualidade em termos de Fat Bike, uma ótima oportunidade para conferir se o formato funcionaria em nossas trilhas.


Assim como a Niner é uma fábrica que produz somente 29ers, a Borealis é igualmente uma marca dedicada a uma categoria exclusiva, as Fat Bikes. A curiosidade é que o nome do modelo Yampa foi emprestado de um rio no estado americano do Colorado, uma bicicleta projetada em conjunto com o campeão da Iditabike, Pete Basinger, um especialista no assunto.


Construída com o objetivo de ser a melhor e mais leve Fat Bike do mercado, a Yampa conta com um conjunto de quadro e garfo, ambos em fibra de carbono, pesando menos de 2Kg. Com um tubo de direção tapered mais curto que da concorrência, a Borealis optou um top tube longo, fazendo contraponto a chain stays bem compactos para os padrões do segmento. A largura do eixo traseiro é a maior já empregada em uma Fat Bike, são de 190mm que permitem o uso de praticamente qualquer combinação de pneus e aros disponíveis no mercado, além de tornar possível o uso eficiente de transmissões com até 20 velocidades. O cubo traseiro, compatível com transmissões SRAM XX1, é de marca própria.


A grande maioria das Fat Bikes comercializadas até o momento precisava lançar mão de aros com furação assimétrica para viabilizar o funcionamento da transmissão, na Borealis Yampa, ao contrário, em função exatamente desse eixo traseiro mais largo, os aros podem ter furação simétrica e até 100mm de largura, suportando pneus tão largos quanto 4.8 polegadas. Ponto característico das Fat Bikes, os aros são vazados entre os nipples, visando diminuir o peso rodante. Na dianteira, uma unanimidade entre várias marcas é o cubo com eixo de 135mm, a mesma largura do eixo traseiro de uma mountain bike comum. A concha para seu movimento central de rosca também é superdimensionada, são 100mm de largura. Um levíssimo e belo pedivela Race Face especial para as Fat Bikes completa o pacote.


Da estranhesa à diversão

O primeiro dia pedalando a Yampa poderia ser definido como estranho. Ainda na cidade, enquanto me encaminhava para a trilha, não havia quem não notasse e se espantasse com a bike. Mesmo com pintura discreta, uma bicicleta com rodas tão grandes chama muito a atenção de todo o tipo de público, além disso, o característico som dos largos pneus rodando pelo asfalto é de impor respeito. Já na terra, as primeiras curvas deixaram claro que mudar de direção envolve muito mais esforço em uma Fat Bike , contudo é dramático o aumento de tração decorrente da maior área de contato dos pneus com o solo, característica que facilita demais a tarefa do ciclista pedalar em pé. Contudo, de início o que logo se torna mais evidente é mesmo a grande distância lateral entre um pedal e outro. Pedalar com os joelhos e pés muito mais separados, requer adaptação.


Sem nenhum tipo de suspensão propriamente dita montada nas Fat Bikes, os próprios pneus de enorme volume cumprem com esse papel de amortecer os impactos, ainda que o retorno não possa ser ajustado, permitem o uso de pressões bastante reduzidas. A calibragem é sem sombra de dúvidas o ajuste capital para garantir o bom desempenho desse tipo de bicicleta, podendo modificar completamente o comportamento do conjunto. Os testes foram iniciados com 11 libras de ar nos pneus.

No segundo dia com a Yampa da Borealis, suas qualidades e toda a diversão começaram a despontar. Já me adaptando a uma nova maneira de pedalar, depois de muita experimentação reduzi a pressão dos pneus para apenas um dígito, 8 libras no caso. Considerando as condições dos singletracks técnicos onde pedalei, foi uma calibragem que se mostrou perfeita, sem grandes prejuízos nos demais trechos de estradão. O detalhe é que o proprietário de uma Fat deve necessariamente andar com um calibrador digital no bolso, caso contrário não seria possível viabilizar essas pequenas variações de pressão que tanta diferença fazem na performance da bike.


Mesmo com a ausência da suspensão de fato, conduzir uma Fat Bike por caminhos acidentados não exige cuidados na escolha da melhor linha. Como era de se esperar, seus enormes pneus convertidos para Tubeless ignoram a maioria dos obstáculos naturais da trilha, por outro lado, fazer curvas com esse tipo de bicicleta pede alguma antecipação por parte do piloto, o guidão precisar ser girado alguns milisegundos antes do que de costume, não significando com isso que a bike seja lenta de respostas.


O desempenho do grupo XX1 combinado com um trocador do tipo Grip Shift impressiona, é praticamente perfeito nas trocas de marcha que sempre se mostraram super rápidas. Nenhuma queda de corrente ocorreu durante o período de testes, mesmo sem o emprego de uma coroa específica com tecnologia SRAM X-Sync (Narrow Wide).  Na verdade, o ganho em tração com essas bikes é inversamente proporcional à resistência de rolagem dos pneus, por isso uma coroa dianteira de 32 dentes pode tornar cansativa a pedalada nas subidas mais íngremes. A regra para as Fat Bikes é optar por uma transmissão ligeiramente mais leve que a de sua mountain bike tradicional.


A escolha de freios é sempre muito pessoal, contudo os novos Avid Elixir 9 Trail com quatro pistões mostraram tanta competência, modulação e força ao parar um "trator" como a Yampa, que já são os meus favoritos para equipar também a Niner RIP 9, a trailbike de testes do P29BR.


E aí, qual é a da Fat?*

*Reprodução da pergunta do leitor Fernando Dechichi

A resposta deve levar em consideração alguns aspectos. Me parece claro que o feedback e a experiência do piloto de Fat Bikes e co-projetista da Borealis, Pete Basinger, estão evidenciados na Yampa, uma bicicleta bastante eficiente, bem construída e com ótima geometria, que imagino, deve fazer bonito na neve. Pedalando uma Fat Bike nas trilhas brasileiras, um bom piloto conseguiria, por exemplo, repetir muito do que faria a bordo de uma full suspension de XC equipada com rodas de 27.5 ou mesmo de 29 polegadas, levando ainda uma pequena vantagem em condições extremas e de baixa aderência, contudo isso com o ônus de terminar o treino mais cansado, já que até o próprio ato de girar o guidão é nitidamente mais trabalhoso em decorrência dos pneus superdimensionados.

Estendendo a comparação com um modelo de suspensão integral, as Fat Bikes levariam vantagem em termos de manutenção e durabilidade, sem contar que no papel o peso total de apenas 10.9 Kg desta Borealis é um destaque. Por outro lado, vez ou outra, boas mountain bikes com 12 Kg de peso ou mais, na prática aparentarem ser mais leves durante as subidas, já no caso das Fat Bikes em particular,  acontece exatamente o oposto, ou seja, são bicicletas que parecem ganhar algumas centenas de gramas no momento de subir pelos terrenos mais íngremes.

A sensação de saltar um obstáculo com uma Fat Bike não é propriamente agradável, para ilustrar essa afirmação, imagine-se dando um bunny hop com sua mountain bike dentro de uma cama elástica. Para completar, a traseira da Yampa é tão larga que às vezes minha panturrilha fazia contato com os seat stays durante o movimento de pedalada.


De todas as formas, pedalar uma Fat Bike é um divertimento tão grande quanto suas rodas, trata-se de um "veículo" capaz de transpor virtualmente qualquer obstáculo em todo o tipo de terreno, uma bicicleta que faz curvas incríveis tirando proveito da aderência adicional dos seus pneus e ainda atrai todos os olhares, onde quer que passe.

A Borealis Yampa seria tranquilamente minha segunda bike, contudo o consumidor brasileiro deve levar em conta o fato de que os padrões de eixos, cubos, central e pedivelas para as Fat Bikes não estão consolidados no mercado, dificultando a tarefa dos que por ventura se interessarem em montar uma.

Keep 29eriding!

5 comentários:

  1. Espero que se consolide no mercado brasileiro. Gostei da KHS que estava na Bike Fair.

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  2. Adil
    Sei que é off topic mas gostaria de sue opinião sobre estas bikes com relação a melhor compra pelo dinheiro pago:

    http://www.bikecenterribeirao.com.br/bicicletas/3302-bicicleta-merida-big-nine-tfs-300d-2013.html

    http://www.centauro.com.br/bicicleta-gt-zascar-9r-sport-808042.html?cor=83

    Ambas na faixa dos 4000 reais.

    Ou outra nesta faixa de preço caso tenha uma melhor opção.

    Grato

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    Respostas
    1. Olá Elias,

      Nessa comparação, iria preferir a GT.

      Abs,

      Adil

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  3. ola boa tarde faltou dizer preco e onde podemos compra la la fora
    ?

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    Respostas
    1. Olá Fininho,

      A Borealis Yampa completa em sua versão mais acessível custa em torno de 3.500 dólares. Só o quadro custa 1.799 dólares.

      Aqui a relação de revendas:

      http://www.borealisbikes.com/dealers

      Abs,

      Adil

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