P29BR 29ER BIKE TEST / Caloi Elite 30 X Caloi Elite 20 - Impressões finais

A Elite em busca da elite.

Para a Caloi, o marcante 2013 teve seu ápice com o anúncio da aquisição da marca pela Dorel, conglomerado de atuação global que já controlava Cannondale, GT, Schwinn e Mongoose, entre outras, contudo mais de ano antes da concretização dessa emblemática transação, a principal fabricante nacional de bicicletas passava por um ponto de inflexão em sua trajetória centenária, fato que resultou em uma guinada estartada em 2012, quando a operação da Caloi foi submetida a um conjunto de transformações relevantes em termos técnicos, comerciais, esportivos e de marketing, esforços que culminaram com o lançamento de sua linha 2013, capitaneada pela série Elite de 29ers.

No post "P29BR 29ER BIKE TEST / Caloi Elite 30 X Elite 20 - Parte 1", você pôde conhecer em detalhes os dois modelos, Elite 30 e 20, que passaram por uma minuciosa análise técnica. Desta vez, é o comportamento das bikes que foi para a berlinda.

De acordo com o site da Caloi, a Elite 30 seria "ideal para ciclistas que levam o mountain bike a sério" e a Elite 20 indicada "para quem busca uma bicicleta com as características de uma bike de competição com qualidade e preço acessível". O preço sugerido ao consumidor varia entre 3.999 Reais para a Elite 30 e 2.999 Reais para a 20, concorrendo diretamente com muitas das importadas de entrada e intermediárias. Por conta da Elite 30 apresentar no papel um pacote de componentes interessantes e preço competitivo, na prática seu público consumidor é bastante amplo, gravitando entre entusiastas buscando uma bike para começar a competir e até mesmo competidores interessados num modelo acessível. Já a Elite 20 se credencia como uma substituta para a antiga e comercialmente bem sucedida Caloi Two Niner.

Falando de componentes, a Elite 30 chega vestida com uma suspensão Rock Shox XC30 com hastes de 30mm, 100mm de curso e trava no guidão, transmissão SRAM X-7 de 30 velocidades marcada pelo contestado câmbio traseiro de cage médio e um cassette 11-36, bem como um conjunto de seis peças de qualidade da Crank Brothers, onde vários detalhes anodizados chamam a atenção. São elas: canote de selim, abraçadeira de canote, guidão, mesa, excelentes manoplas e convenientes pedais de encaixe Candy 1. Na Elite 20 o garfo é um RST Omega 29 com os mesmos 100mm de curso, o diferencial aqui são as hastes anodizadas de 32mm, já a transmissão SRAM X-5 de 27 velocidades também está montada com um câmbio traseiro de cage médio, este trabalhando em conjunto com um cassette 11-34. O ponto interessante é que Caloi adotou cockpits igualmente dimensionados para ambas bicicletas, com adequados guidões retos de 680mm de largura, mesas de 110mm e canotes de selim com 400mm de comprimento.

Com números muito similares para os principais ângulos dos tubos e o mesmo comprimento de top tube efetivo, as semelhanças de geometria entre as duas 29ers da Caloi terminam por aí. Além do movimento central mais próximo ao solo na Elite 30, é de fato o comprimento dos chain stays a variável que dita as maiores diferenças de comportamento dela em relação à 20. São apenas 438mm, que aliados a um seat tube curvado e a um top tube também compacto quando comparado à concorrência, resultaram em uma bike que acelera de maneira bastante competente.

Como era de se esperar de uma boa 29er com entre eixos curto, a Elite 30 brilha nos trechos de singletrack, é eficiente e capaz de mudanças rápidas de direção, contudo os mesmos chain stays compactos, que favorecem a pedalada nos trechos técnicos, conspiram contra o piloto nos aclives mais acentuados. Conduzir a Elite 30 em terrenos íngremes, pede que o ciclista ataque as subidas com o tronco bem baixo, colocando mais peso na dianteira da bicicleta. Ao contrário, na Elite 20 mais longa, o peso do piloto fica melhor distribuído entre os eixos, facilitando o ato de pedalar montanha acima a bordo uma bike com mais de 14 Kg de peso, contudo faria mais sentido se o modelo contasse com um cassette de pinhão maior com 36 dentes, até mesmo por conta do público que efetivamente compraria a bike. O P29BR considera os 680mm de largura dos guidões escolhidos pela Caloi, hoje a medida mínima ideal para as 29ers de XC. A despeito da concha do movimento do central medindo somente 68mm de largura em ambos os quadros, nos pedais a rigidez dos dois é satisfatória.

A suspensão RST da Elite 20, mesmo com uma estrutura aparentemente mais rígida e hastes de 32mm, não é capaz de transformar essas características em eficiência na absorção de impactos, transmitindo para os braços do piloto uma parcela considerável dos esforços, seu retorno é rápido demais e não pode ser ajustado. A mola original da Omega 29 é do tipo Hard, muito firme para meus 75Kg, por isso em nenhuma situação foi possível utilizar os 100mm de curso disponíveis, ainda assim a bike se mostrou um pouco mais estável em descidas numa comparação direta com a Elite 30, que por sua vez leva vantagem no desempenho do garfo, a Rock Shox XC30 funciona de forma satisfatória, é mais regulável, dispõe de trava no guidão e vem de fábrica com uma mola de dureza média. Nas descidas, o melhor para o piloto, tanto com a Elite 20, quanto pedalando a 30, é manter o corpo um pouco elevado em relação ao selim, deixando joelhos e cotovelos dobrados.

Os pneus Continental X-King 29x2.2, apesar de competentes e de boa rolagem em terreno seco e solo compacto, passaram a sensação de serem um pouco duros. Mesmo quando calibrados com cerca de 30 libras, a vibração transmitida à bike poderia ser menor, além disso, como de praxe em outros modelos da marca alemã, sua largura real não reflete a largura nominal impressa na lateral do pneu. Montado nos aros VZAN da Elite, o X-King mediu 51mm de largura, ou seja, tem na realidade 2.0 polegadas.

Nas curvas, em função de uma geometria toda particular - seu central mais próximo ao solo, angulação dos tubos e entre eixos compacto - a Elite 30 mostrou-se consideravelmente superior no comparativo, situação onde aflora seu DNA de competição. Já a Elite 20 oferece um desempenho mais neutro em curvas, transmitindo segurança, comportamento condizente com as necessidades do seu público consumidor, ainda que exija do piloto um pouco mais de trabalho de braço no momento de girar o guidão.

Equipam as duas bikes os mesmos freios hidráulicos Elixir 1 da Avid em conjunto com rotores de 160mm. Em ambas, de início as pastilhas se encontravam tão próximas dos rotores que geravam um arrasto indesejado nas rodas. A solução seria sangrar os freios numa oficina, entretanto com uma estratégia bem simples você mesmo pode resolver o problema em casa. Utilizando uma chave torx, comece a desrroquear de forma bem lenta e controlada o parafuso de sangria do manete até que sejam expelidas algumas poucas gotas de óleo, rapidamente aperte o parafuso para evitar a entrada de ar e teste os freios, se o óleo eliminado do sistema não foi suficiente para afastar dos rotores as pastilhas, repita o processo. Como o óleo em questão é corrosivo, utilize sempre um pano absorvente para evitar que as gotas escorram para outras partes. Se possível, use luvas.

A despeito dos problemas iniciais, depois de ajustado, o Avid Elixir 1 cumpriu seu papel, contudo pilotos mais pesados poderão se beneficiar de um rotor maior na dianteira, upgrade cuja viabilidade estaria diretamente ligada à opção do proprietário por rodas mais rígidas do que as originalmente montadas pela Caloi.

Mais do que a discutível opção da fábrica por câmbios traseiros de cage médio, assunto já tratado de a fundo no artigo "P29BR 29ER BIKE TEST / Caloi Elite 30 - A Transmissão", talvez o ponto que mais afaste a Elite de bikes similares das outras grandes marcas do mercado internacional, seja mesmo o quesito montagem. Por exemplo, em ambas as bikes não havia qualquer vestígio de graxa na rosca do movimento central, os cassettes não estavam apertados o suficiente e, principalmente, os raios das rodas da Elite 20 apresentavam tensão aquém da recomendada, causando uma perceptível torção em situações de frenagem mais bruscas ou mesmo na aterrissagem de pequenos saltos. Sendo assim, aos novos compradores seria recomendável uma checada nesses itens antes de tirar a bike da revenda.

Para a Elite 30, num primeiro momento se faz necessário ao menos um ajuste ou upgrade na contestada transmissão, conforme explicado no mesmo artigo. Merecem também atenção especial e uma chave allen de qualidade, os parafusos de 2mm que fixam as tampas por onde entram e saem os conduítes. Caso o proprietário pretenda levar a sério as competições, rodas mais leves e rígidas são mandatórias, essa sim uma troca que resultaria em um decisivo ganho de performance e, quem sabe, meio quilo a menos no peso do conjunto, ou mais.

Aos que escolherem a Elite 20, fica a sugestão da substituição dos pedais de plataforma de fábrica por outros de encaixe. As manoplas originais de grande diâmetro e sem sistema de fixação, não oferecem conforto ao piloto, além de girarem o tempo todo no guidão. Seu selim não ganharia um concurso de beleza, contudo não chega a ser desconfortável e, ao contrário das manoplas, pode ser mantido.

Os pneus Continental X-King não são leves, mas se comportaram muito bem em terrenos secos, por outro lado, em condições de barro perdem muito em eficiência. A tradicionalmente recomendada conversão tubeles seria muito bem vinda em ambas as bikes, para aqueles pilotos que decidirem se aventurar no mundo competitivo.

Como o top tube da Elite é mais compacto numa comparação direta com modelos similares de outros players do mercado, principalmente no caso do quadro de 19 polegadas, talvez fosse interesante incluir pelo menos um tamanho adicional na linha, atendendo melhor aos mais altos e expandindo o público consumidor das bikes.

A Caloi, apoiada pela Dorel, deu recentemente mais um passo fundamental em direção à elite do mercado mundial de bicicletas, contudo trilhar o caminho da busca pela excelência envolve também uma revisão de processos internos, de logística e montagem, entre outros. Esforços que segundo a fábrica já estão em curso e, juntos, podem ser melhor representados pela palavra "evolução". Os abrangentes testes do P29BR com duas das 29ers da linha Elite demostraram que essas bikes possuem um considerável potencial para evoluir. Algumas correções construtivas são necessárias, como a readequação do roteamento dos cabos na Elite 30, bem como a definição da compatibilidade de toda a linha com racks traseiros ou não. A escolha de componentes para os modelos é quase uma ciência, algo que a grande maioria dos consumidores desconhece. As complexas regras para obter e manter os benefícios tributários da Zona Franca, são a principal razão, por exemplo, da Caloi não oferecer bikes equipadas rodas completas da VZAN, produto ainda montado fora de Manaus.

Para 2014, pelo apresentado na recém encerrada Brasil Cycle Fair, a linha Elite não sofreu grandes modificações, apenas alguns bem vindos ajustes, contudo a Caloi expandiu o número de alternativas com rodas grandes, incluindo uma nova linha de entrada batizada de Explorer que substitui com estilo a Caloi 29, esta última ainda usava o antigo quadro da pioneira Two Niner. Para completar, a nova Vitus 29er, um novo modelo posicionado acima da Elite 30.

Depois de mais de 500Km rodados com a Elite 30, o P29BR não hesitaria em recomendar aos leitores a bike de 3.999 Reais, pois junto com um bom pacote de componentes, o modelo conta com uma geometria peculiar, característica esta que lhe garante desempenho e agilidade acima da média na categoria. A bike se comporta tão bem na trilha que faria todo sentido a Caloi seguir o exemplo de outras marcas internacionais e vender também o quadro avulso. A Elite 20, vendida a 2.999 Reais, se credencia como uma boa opção para um uso misto, on e off-road, ainda que na terra nos trechos mais técnicos não esteja à altura da 30.

Termina aqui a série de artigos sobre a Caloi Elite, caso queira conferir pesos, características, bem como rever a análise técnica dos quadros e transmissão, acesse:

P29BR 29ER BIKE TEST / Caloi Elite 30 X Elite 20 - Parte 1

P29BR 29ER BIKE TEST / Caloi Elite 30 - A Transmissão

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